Para levarmos uma vida significativa, devemos respeitar a mulher e seu papel na vida social. Isto não pretende ser uma declaração sobre suas características biológicas e sociais, mas uma análise sobre o conceito universalmente importante da mulher como um ser. Se conseguirmos definir a mulher, talvez também consigamos definir o homem. O homem que define a mulher ou a vida através de seu próprio ponto de vista tende a ter interpretações inválidas, porque a existência natural feminina é mais central do que a masculina.
A posição da mulher foi degradada e feita insignificante pela sociedade do macho dominante, mas isso não deveria nos impedir de desenvolver um entendimento válido sobre sua realidade. Este é o motivo que nos deixa claro que o corpo da mulher não é pior nem deficiente; pelo contrário, o corpo feminino é mais central que o masculino. Esta é a raíz do radicalismo masculino e seu ciúme sem sentido. A consequência natural sobre o diferente corpo da mulher é que sua inteligência emocional é muito mais forte que a do homem.
A inteligência emocional é conectada à vida; é a inteligência que governa a empatia e a simpatia. Até quando a mulher possui uma inteligência analítica mais desenvolvida, sua inteligência emocional a dá o talento de viver uma vida mais balanceada, abraça a vida para se dedicar a não destruição. Nós podemos ver isso através do breve argumento de que o homem é um sistema. O homem se tornou o Estado e fez disso uma cultura dominante. A opressão de classe e sexual evoluíram juntas; com a masculinidade, criou-se o gênero dominante, a classe dominante e o estado dominante. Se o homem for analisado neste contexto, fica claro que a masculinidade deve ser aniquilada. De fato, matar o macho dominante é princípio básico do socialismo. A aniquilação de poderes significa: destruir a dominação unilateral, a desigualdade e a intolerância. Além disso, significa matar o fascismo, as ditaduras e o despotismo. Nós devíamos usar esses conceitos para expandir e incluir todos esses aspectos.
A libertação da vida é impossível sem a revolução radical feminina, que mudará a mentalidade e a vida dos homens. Enquanto formos incapazes de manter a paz entre as vidas dos homens e das mulheres, a felicidade será apenas uma vã esperança. A revolução do gênero não afetará apenas as mulheres. Afetará uma civilização de 5000 anos de classes sociais que colocaram o homem em uma condição pior que a da mulher. A revolução do gênero significa também a libertação do homem. O “divórcio total”, ou seja, a capacidade de romper com 5000 anos de cultura de dominação masculina. Os gêneros feminino e masculino que conhecemos hoje são construções que surgiram muito depois da noção do corpo biológico feminino e masculino. As mulheres foram construídas para terem suas identidades moldadas e exploradas durante séculos; e nunca foram reconhecidas pelos seus trabalhos.
Tem de ser superado, ao homem, a ideia de que a mulher deve ser sempre a esposa, irmã ou amante – estereótipos que foram criados antigamente e que a modernidade forjou. Não é correto levantar a questão de Estado primeiro e apenas quando for quisto endereçar o problema familiar. Nenhum problema social poderá ser solucionado se abordado isoladamente. O método mais efetivo é, no geral, considerar a importância de cada questão em seu determinado contexto, e assim relacioná-la a outras questões. Este método também pode ser aplicado para resolver outros problemas. A análise da mentalidade social, sem a análise do Estado e sem a análise familiar; a análise da mulher sem a análise do homem leva a resultados inadequados. Devemos considerar este fenômeno social como um todo, ou então todas nossas tentativas de solução permanecerão inadequadas. A solução de todos os problemas sociais no Oriente Médio deveria ser focada no local o qual as mulheres ocupam. O objetivo básico para o próximo período deve ser a terceira maior revolta sexual, desta vez contra o homem. Sem a igualdade de gênero, nenhum pedido por liberdade e igualdade faz sentido. De fato, a liberdade e a igualdade não podem ser alcançadas sem a igualdade de gênero. A liberdade da mulher é a maior constante e componente mais abrangente para a democratização. O sistema social é particularmente mais vulnerável por conta do problema não resolvido do papel da mulher.
Primeiro, a mulher se tornou propriedade, e hoje, ela continua sendo uma mercadoria, de corpo e alma. O papel, uma vez direcionado à classe trabalhadora, agora deve ser desempenhado pela irmandade feminina, aí então poderemos fazer uma análise social, estaremos hábeis a analisar esta irmandade feminina – isso nos permitirá obter mais clareza quanto os problemas de classe e de nacionalidade.
A verdadeira liberdade da mulher só será possível se conseguir superar as emoções escravizadoras, necessidades e desejo pelo Marido, Pai, Amante, Irmão, Amigo e Filho. O amor mais profundo cria os mais perigosos títulos de propriedade. Não seremos capazes de reconhecer as qualidades da mulher livre se não construirmos um severo criticismo mental, religioso e artístico padronizados e gerados praticamente pela masculinidade dominante mundial em relação à mulher. A liberdade da mulher não pode ser simplesmente esperada, embora a liberdade de todos e a igualdade só podem ser alcançadas em sociedade. Uma organização própria e separada é de enorme importância e deve ter uma ordem de grandeza que corresponde à sua determinação como fenômeno. Claramente, um movimento de democratização geral também gera oportunidades para as mulheres. Mas apenas isto não implica à democracia. As mulheres devem definir seus próprios objetivos democráticos e se organizar para os alcançarem. Para isso, uma definição especial de liberdade é essencial para a mulher se libertar da escravidão enraizada à ela.